É, ao mesmo tempo, engraçado e constrangedor assistir ao vai-e-vem das recomendações científicas sobre qual seria a melhor dieta para uma vida saudável. Nos anos 90, a ingesta de
gordura foi eleita como a grande vilã da obesidade e combatida como inimiga pública número um! Nesta mesma época, achava-se que um grande consumo de
açúcar seria benéfico, já que diminuiria a ingesta das gorduras. Chamamos, aqui, de açúcar o carboidrato cristalizado que usamos diariamente para adoçar o cafezinho ou confeccionar doces (obs: o termo açúcar, em meio científico, é muitas vezes utilizado como sinônimo de carboidrato).
Cerca de uma década mais tarde, ocorre uma grande inversão de papel: a
American Heart Association rebaixa o excesso de açúcar de mocinho a vilão, recomendando grandes
cortes no seu consumo diário. Hoje, alguns especialista consideram ser o açúcar o grande responsável pela
epidemia de obesidade e diabetes no mundo. Nesse contexto, a frutose, um tipo de carboidrato primordial, teria grande parcela de culpa.
O nosso açúcar do dia-a-dia
O açúcar que utilizamos diariamente é provido da cana-de-açúcar e é rico em sacarose. A sacarose é uma molécula formada a partir de dois carboidratos:
glicose e frutose. A frutose, muito abundante nas frutas, é cerca de duas vezes mais adocicada que a glicose. Existem grandes diferenças entre o metabolismo destes dois carboidratos. Estas diferenças e suas consequências para a saúde foram recentemente retratadas no
The Journal of the American Medical Association (acesse
aqui o original).
Enquanto que a glicose, após ser absorvida, promove liberação de
insulina e facilita tanto a produção de glicogênio (reserva de glicose) como sua utilização em todo o organismo, a frutose não o faz. Dessa maneira, a frutose é quase que inteiramente metabolizada pelo fígado, através de modulação de cascatas metabólicas, e é utilizada para a confecção de
gorduras. Esse excesso de gorduras produzido pelo fígado pode gerar acúmulos e contribuir para a
esteatose hepática, resistência à insulina, aumento dos triglicerídeos e obesidade. Esse acúmulo anômalo de lípides também foi relacionado a aumento de processo inflamatório dos vasos sanguíneos e, consequentemente, a
hipertensão arterial. É importante ressaltar que esse complexo sistema metabólico é modulado por diferentes cascatas metabólicas orquestradas por muitos genes.
Antes de tirarmos conclusões excessivamente alarmistas, vale lembrar que muitos dos estudos que avaliaram os efeitos maléficos da frutose utilizaram grandes doses da mesma - doses muito acima das existentes nas frutas. Além disso, a maior parte da ingestão de frutose é feita
junto com a glicose (na forma de sacarose, como vimos acima), impossibilitando diferenciar com precisão os efeitos exclusivos da frutose daqueles decorrentes da associação frutose-glicose. Dessa maneira, ainda é cedo para quaisquer recomendações de substituição de frutose por produtos que contenham exclusivamente glicose.
E as frutas?
Como sabemos, as frutas são as principais fontes de frutose da natureza (cada fruta pode conter 10 gramas de frutose). Se grandes doses de frutose fossem realmente tóxicas, os indivíduos que consomem muitas frutas deveriam sofrer os efeitos deletérios. Mas isso não acontece! Muito pelo contrário: grande ingesta de
frutas é claramente associada a perda de peso e diminuição de hipertensão arterial e de outros riscos à
saúde.
Podemos especular que não é a quantidade de frutose que faz mal, mas sim a
velocidade em que a frutose é absorvida. Enquanto que a frutose do açúcar é rapidamente absorvida podendo sobrecarregar o fígado, a frutose das frutas é lentamente absorvida pelo fato de a última ser rica em
fibras não absorvíveis.
Salva pela fruta, condenada pelo açúcar
É importante ressaltar que a frutose proveniente das frutas é fonte
saudável e segura de energia e o consumo de frutas deve fazer parte da nossa
base alimentar. No entanto, o consumo exagerado do açúcar está diretamente relacionado com obesidade e outros fatores de risco para a saúde e a rápida absorção e metabolização hepática de frutose tem papel importante neste processo.
Dessa forma, o consumo de frutose não pode ser nem condenado e nem absolvido. Mas deve ser
moderado, escolhendo-se a fonte certa (frutas) em detrimento das maléficas (açúcar). Para mais dicas de vida saudável, acesse o
blog da nutricionista fitness.