quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tomografia computadorizada aumenta risco de câncer

Tomografia computadorizada aumenta risco de câncer, mas o quão relevante é isso?

Em estudo publicado ontem no British Medical Journal (acesse a íntegra no site), pesquisadores australianos avaliaram o impacto da realização de tomografia computadorizada no desenvolvimento do câncer. A tomografia computadorizada é um exame de imagem que utiliza radiação ionizante para avaliar diferentes estruturas do corpo.

A radiação ionizante é sabidamente indutora de mutações genéticas quando administrada em altas doses. Dessa forma, a exposição a esta pode induzir a formação de tumores (veja nossa postagem prévia). Os cientistas pioneiros a utilizarem a radiação ionizante em pesquisas no início do século passado foram, também, os primeiros a sofrerem os seus efeitos biológicos: muitos desenvolveram alterações hematológicas, queimaduras de pele e mucosas e, após vários anos, câncer.

A dose de radiação utilizada em exames de imagem, como a tomografia, é ínfima quando comparada com a dose a que os cientistas foram expostos, ou mesmo quando comparada à dose de radiação a qual foram expostos alguns moradores de Goiânia-GO em 1987 (para os que não se recordam, alguns moradores de uma comunidade carente foram expostos ao césio-137; acesse reportagem do UOL).

Será que doses baixas de radiação ionizante podem aumentar o risco de desenvolver câncer anos depois da exposição?


Os pesquisadores australianos avaliaram cerca de 11 milhões de pessoas nascidas entre 1985 e 2005 e compararam a incidência de câncer entre as pessoas que realizaram tomografia computadorizada um ano antes do diagnóstico de câncer e as pessoas que não realizaram o exame. A incidência de câncer foi 24% maior no grupo de pacientes que realizou a tomografia.

Os pesquisadores também observaram que quanto mais jovem o indivíduo ou quanto maior o número de tomografias realizadas, maior a incidência de câncer. Os tipos de câncer associados à irradiação foram vários, incluindo leucemia e outros tumores de linhagem sanguínea, melanoma, tumores intestinais, trato urinário, cérebro, tireóide, dentre outros.

Os autores concluem que a tomografia computadorizada deve ser realizada somente quando estritamente necessária, tomando-se precaução em utilizar a menor dose de radiação possível.

Crítica

Esse estudo australiano avaliou o risco de desenvolver câncer após a exposição a baixas doses de radiação ionizante e concluiu que houve um aumento de 24% na incidência de tumores nos expostos. No entanto, mesmo com esse aumento significativo, o risco absoluto continua baixo tanto para indivíduos expostos à tomografia quanto para não expostos: 48,4 e 39/100.000 pessoas/ano, respectivamente. Dessa maneira, seriam necessárias a realização de cerca de 4.000 exames de tomografia para a ocorrência de um único caso de câncer decorrente da exposição à radiação.

A tomografia computadorizada continua sendo uma importante ferramenta diagnóstica na atualidade. Ainda é exame insubstituível em várias situações e, quando bem indicada, pode salvar vidas. Cabe à equipe médica definir em cada situação distinta se o exame trará mais benefícios do que malefícios.

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