terça-feira, 13 de agosto de 2013

Indução do trabalho de parto é relacionada a aumento de risco de autismo

Um grande estudo populacional realizado nos Estados Unidos e publicado ontem no periódico JAMA Pediatrics (original pode ser acessado aqui) reacende a longa discussão sobre o autismo e transtornos correlatos (chamados transtornos do espectro autista) e os inúmeros fatores envolvidos na gênese destes distúrbios do desenvolvimento neural.

Autismo e transtornos correlatos

O autismo e outros transtornos do espectro autista caracterizam-se por graus variados de comprometimento da interação social e da comunicação e, também, pela presença de alterações comportamentais.

Presume-se que tais transtornos são decorrentes de função errática das sinapses neuronais, que podem ser simploriamente definidas como as "ligações" ou "pontes" que comunicam os neurônios. Mas quais são os eventos que levam aos tais distúrbios da arquitetura neural?

Eventos relacionados

Os transtornos do espectro autista apresentam uma etiologia variada. É certo que são muito fortemente associados a alterações genéticas: diversas mutações raras, rearranjos complexos e variações no número de cópias de determinados seguimentos do DNA já foram descritos em indivíduos com os transtornos do desenvolvimento neural. Mas as causas genéticas não são as únicas.

Diversos distúrbios ambientais, como intercorrências no parto ou infecções durante a gestação, também têm papel relevante na ocorrência de desarranjos da arquitetura neural. Foi justamente este o tema da pesquisa americana.

Indução de parto e risco de autismo

Os pesquisadores compararam dados pregressos de 625.000 crianças americanas, incluindo 5.500 com transtornos do espectro autista. A pesquisa mostra que crianças que foram submetidas à indução ou condução do parto utilizando-se de medicamentos para acelerar as contrações uterinas apresentaram risco de 10 a 25% maior de desenvolver o espectro autista. Este efeito foi consideravelmente maior nas crianças do sexo masculino.

Os autores da pesquisa especulam que este efeito de aumentar o risco de espectro autista poderia ser decorrente da exposição direta e excessiva de oxitocina, medicamento análogo hormonal amplamente utilizado na indução e na condução do trabalho de parto.

Críticas

O estudo conduzido pelos americanos é preliminar e não deve modificar as práticas obstétricas ou o modo de conduzir o trabalho de parto, conforme os próprios autores concluem. Vale lembrar que a indução e condução do parto com oxitocina trazem grandes benefícios à saúde tanto da mãe quanto do bebê, já que previnem complicações respiratórias do bebê, diminuem a necessidade de parto cesariano e diminuem a taxa de mortalidade materna.