terça-feira, 7 de abril de 2015

Acondroplasia


A seguir, transcrevemos o texto de nossa autoria publicado no Portal Minha Vida (acessado aqui).

Conhecendo a acondroplasia

 

1.  O que é?

·         A acondroplasia é a forma mais comum de displasia esquelética. As displasias esqueléticas são um grupo amplo de condições geneticamente determinadas que cursam, geralmente, com baixa estatura e alteração do arcabouço ósseo.
·         Os indivíduos com acondroplasia apresentam características específicas tais como baixa estatura desproporcionada (i.e., existe encurtamento predominante dos membros em relação ao tronco), mãos em formato de tridente, aumento da circunferência da cabeça e feição facial típica.

 

2.  Causas

·         Mutações deletérias no gene FGFR3 são relacionadas à gênese da acondroplasia. Este gene codifica um receptor celular que tem função primordial no controle da maturação da cartilagem óssea e, consequentemente, participa ativamente da modulação do crescimento ósseo.
·         Desta forma, mutações neste gene resultam em função anômala do receptor por ele codificado. A consequência clínica é a formação de ossos mais curtos e de formato anômalo.

 

3.  Herança Genética

·         A acondroplasia é condição geneticamente determinada de herança autossômica dominante. Desta maneira, os indivíduos com acondroplasia têm 50% de chance, em cada gestação, de apresentarem filho/filha com a mesma condição.
·         Observamos, em 80% das ocorrências, que a acondroplasia não é herdada de nenhum dos genitores e ocorre de maneira isolada na família. Esta situação (i.e., indivíduos com acondroplasia cujos pais não apresentam a condição) é decorrente de mutação nova no gene FGFR3 durante a formação do gameta (óvulo ou espermatozoide) de um dos genitores. Neste caso, é baixo o risco de casal sem acondroplasia ter uma segunda criança com a condição.

 

4.  Sintomas

·         As características da acondroplasia podem ser suspeitadas já no exame de ultrassonografia pré-natal, com redução do tamanho do feto de encurtamento ósseo.
·         Após o nascimento é que os achados afloram e o diagnóstico pode ser confirmado.
·         Percebe-se a presença de baixa estatura desproporcionada, com os membros mais encurtados e o tronco relativamente preservado. Os dedos das mãos são curtos e temos uma disposição que lembra um tridente.
·         A face é muito característica com a fronte proeminente e aumento da circunferência da cabeça.
·         Observamos, também, um aumento da curvatura natural da lombar (hiperlordose lombar), limitação da movimentação do cotovelo e hipermobilidade de outras articulações, como joelhos e quadril. Deformidades em joelhos também são comuns.
·         Na infância, pode haver hipotonia (i.e., o bebê aparenta ser menos firme) e atraso do desenvolvimento motor (i.e., o bebê pode demorar mais tempo para sentar e andar).
·         A estatura final do homem com acondroplasia é cerca de 131 cm, enquanto que a da mulher é cerca de 124 cm.

 

5.  Buscando ajuda médica

·         A suspeita de acondroplasia deve sempre ser suscitada na presença de baixa estatura já ao nascimento, encurtamento dos membros ou na presença de encurtamentos ósseos em radiografias de rotina.

 

6.  Diagnóstico

·         Apesar de não haver nenhum algoritmo diagnóstico publicado, o diagnóstico da acondroplasia é clínico e baseia-se na presença dos achados físicos e radiológicos típicos. Daí a importância de avaliação pormenorizada com o médico geneticista.
·         O teste do DNA com estudo do gene FGFR3 é confirmatório em mais de 99% dos pacientes, mas em geral este teste é reservado somente aos quadros atípicos (i.e., quando a avaliação clínica e o estudo radiológico não são suficientes para confirmar o diagnóstico).

 

7.  Exames

·         A avaliação clínica com exame físico completo e medidas corporais são as ferramentas mais importantes para o diagnóstico. Além disto, o estudo radiológico do esqueleto agrega importantes informações sobre algumas alterações típicas da acondroplasia. O estudo do DNA pode ajudar em quadros atípicos, conforme anteriormente mencionado.
·         Para o acompanhamento clínico, uma série de outros exames pode ser necessária para a abordagem de possíveis complicações. Estes exames podem incluir: imagem do encéfalo (p.ex.: tomografia computadorizada), polissonografia, radiografias seriadas, estudo da junção crânio-cervical, avaliação neurológica.

 

8.  Tratamento

·         O uso de hormônio de crescimento (GH; ou somatotropina) para o tratamento da baixa estatura na acondroplasia traz efeitos modestos: acelera o crescimento na infância, mas os ganhos são bem menos intensos posteriormente.
·         O alongamento ósseo ortopédico é opção mais invasiva e desconfortável, mas proporciona ganhos de até 30 cm de estatura. O uso desta técnica deve ser muito criterioso, realizado por ortopedista experiente neste campo e com o consentimento do indivíduo.

 

9.  Convivendo com/prognóstico

·         Algumas atividades devem ser evitadas pelos indivíduos com acondroplasia. Elas incluem as situações que forcem a junção crânio-cervical, como esportes de contato, pular “de cabeça” na piscina, pular de trampolim, “plantar bananeira” ou qualquer situação que envolva ficar de cabeça para baixo.
·         O parto de gestantes com acondroplasia deve ser preferencialmente cirúrgico (cesariano), já que existe redução das proporções pélvicas.

 

10.             Complicações possíveis

·         As principais complicações na acondroplasia são atraso de desenvolvimento e hipotonia na infância, hidrocefalia, obesidade, compressão medular na junção crânio-cervical, apneia obstrutiva do sono, infecções de ouvido de repetição e deformidades ósseas.

 

11.             Expectativas

·         A ciência ainda não dispõe de tratamento curativo para a acondroplasia.
·         O seguimento adequado visa a detecção e abordagem precoces de possíveis complicações.

 

12.             Prevenção

·         O diagnóstico precoce e o seguimento clínico multiprofissional são as chaves para a prevenção das complicações da acondroplasia.

Referências

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